quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Arte de Manter as Mãos Limpas (Parte I)

Bode Expiatório

Segundo a Bíblia, “Bode Expiatório” era um animal que era apartado do rebanho e levado ao deserto para morrer à míngua como parte das cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação. Este rito é descrito na Bíblia, mais especificamente no livro de Levítico, da seguinte maneira:

Dois bodes eram levados, juntamente com um touro, ao lugar de sacrifício, como parte dos Korbanot do Templo de Jerusalém. No templo os sacerdotes sorteavam um dos bodes.
Um era queimado em holocausto no altar de sacrifício com o touro. O segundo tornava-se o bode expiatório, pois o sacerdote punha suas mãos sobre a cabeça do animal e confessava os pecados do povo de Israel. Posteriormente, o bode era deixado ao relento na natureza selvagem, levando consigo os pecados de toda a gente, para ser reclamado pelo anjo caído Azazel (braço direito de Satanás, um demônio do deserto).

Este sacrifício sangrento parece uma relíquia bárbara do passado, porém, a prática do Bode Expiatório está mais popular do que nunca, principalmente no mundo da Política. 

Compreendendo o funcionamento do poder, da importância das aparências e sabedor de que a reputação do governante depende mais daquilo que escondemos do que daquilo que revelamos, a prática do Bode Expiatório deixou de ser uma atitude conveniente e passou a ser uma atitude quase que compulsiva e obrigatória entre os detentores do poder.

O raciocínio político é que: quem está no poder tem que aparentar que nunca erra. Não se conhece, nos dias de hoje, um governante que publicamente tenha assumido seus erros, que tenha pedido desculpas. Afinal, uma desculpa abre portas para todo tipo de dúvidas. Dúvidas sobre a competência, sobre as verdadeiras intenções e principalmente sobre os erros que talvez não tenham sido confessados. Além do mais, desculpas não satisfazem a ninguém, pois o erro não desaparece; ao contrário, em se tratando de política, cresce e inflama. Melhor então é cortar fora, extirpar esta mácula imediatamente e para este momento nada melhor do que o velho e bom Bode Expiatório. 

Se você quer sobreviver no mundo da política, deve entender que o Bode Expiatório é um jogo de cartas marcadas. Neste jogo, e durante toda a história, os governantes têm entendido a importância de ter sempre ao seu lado alguém em quem colocar a culpa. E se este alguém for um “favorito do rei”, tanto melhor ainda.

É da natureza humana a atitude de não procurar dentro de si mesmo a razão de um erro, sendo mais natural então, aceitarmos que a culpa esta sempre no outro. O povo sempre acreditará na culpa do Bode Expiatório, principalmente se este for uma pessoa próxima do governante. A este processo denomina-se de “a queda do favorito”. 

Afinal, porque o rei sacrificaria seu favorito se este não fosse culpado?  Não é mesmo? 

E com isso, como ovelha, o povo volta a acreditar que o interesse do pastor e do rebanho são os mesmos.

Pense Nisso!

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